C A R T A S

C A R T A S

 Tragédia anunciada ou

até onde poderá nos levar a ignorância e a bestialidade humanas.

 

Lembro-me muito bem de que há mais de 30 anos vimos tentando alertar sobre os riscos e perigos de tratarmos mal o mundo em que vivemos. Ganhamos até um apelido: ecochatos. E continua-se fazendo dia a dia da terra uma lata de lixo jogando para longe das vistas a merda e a sujeira produzidas diariamente; é como diz o ditado: o que os olhos não vêem o coração não sente.

Mas, dia a dia estamos vendo a conseqüência nefasta da ganância, ignorância e soberba dos humanos. A última da vez é essa inominável tragédia na região serrana do Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras onde as chuvas estão intensas, notadamente a região sul de Minas Gerais. Dizer que é coisa de Deus é blasfemar, é desconhecer a ação predatória humana. Desde 1962 existe lei no Brasil que proíbe a construção nestas áreas que foram afetadas. Mas pouco a pouco os políticos em busca de votos vão cedendo, flexibilizando a lei a seu bel prazer e conveniência eleitoral. No Rio de Janeiro há bem pouco tempo chegou-se a revogar a lei que proibia a construção em áreas de risco, coisa que tiveram que retroceder diante da tragédia acontecida no ano seguinte. Em Minas Gerais os nobres deputados aprovaram lei diminuindo a margem para construções ás margens dos córregos, de 100 para 30 metros. Em Passos, no porto de Passos ás margens do Rio Grande as construções, principalmente daqueles mais abastados economicamente, avançam até sobre o rio, além de formarem um paredão que impede o acesso das demais pessoas a um bem comum. E vem a Defesa Civil da cidade dizer que por aqui não existe área de risco. Será que alguém já passou, só para citar um outro caso, na rua Boiadeiros onde uma fabriqueta de moveis se expande no barranco do córrego, local de enchentes constantes e de onde já saíram pessoas que ganharam casa da prefeitura pra saírem de lá? E a canalização dos rios da cidade sem nenhum critério empurrando sabe lá pra onde as águas que vindo têm que ir para algum lugar?

Tudo no mundo está interligado, quer queiramos ou não. A devastação da Amazônia, do Pará, do Tocantins, também provocada por pessoas destas bandas, pode não conseguir amenizar as forças dos ventos que livres tornam-se cada vez mais intensos ao chegar por aqui.

Enquanto em Portugal e Austrália este tipo de desastre mata 40 pessoas, por aqui mata 1000. Proporção gritante que mostra a falta de planejamento, o descaso, a inépcia, a incapacidade técnica, o descuido para com a população. O projeto para construção da hidrelétrica de Belo Monte está cheio de falhas, mas acharam melhor demitir os diretores do IBAMA do que adequar o projeto pelo menos no limite do aceitável.

Até onde nos levará estas mentes doentias pelo poder que manipulam dados, que distorcem verdades e que ignoram a sabedoria da natureza? Normal. Afinal estas tragédias resultam em mais verbas que nunca chegam a quem realmente precisa, e vão engordar contas de políticos, empreiteiras, empresários. Mas se esquecem eles que um dia eles mesmos e suas famílias poderão ser as vitimas de uma natureza que é de todos.

URGE CUIDAR MELHOR DE TODOS OS SERES.   Marise a Pacheco. 14/01/2011